
Seu corpo não precisa ser consertado. Ele precisa ser celebrado.
Se eu ganhasse um real por cada vez que ouvi alguém falar (e me ouvi dizendo) sobre “recuperar o corpo depois da gravidez”, estaria escrevendo este artigo da varanda de uma vila na Itália, bebendo um bom chardonnay e comendo uma bela pizza inteira sem culpa (porque aqui a gente trabalha a autoestima até na escolha do carboidrato).
Mas como o sistema ainda não me permitiu essa realidade, estou aqui, de camiseta e coque bagunçado, para te dizer algo importante: o corpo perfeito depois dos filhos é o corpo que você tem agora. Com estrias, sem estrias, mais cheinho, mais magrinho, com barriga, sem barriga – ele é seu, te trouxe até aqui e merece respeito.
E antes que seu cérebro tente boicotar essa informação com aquele pensamento automático tipo “Ah, mas fulana teve três filhos e está um espetáculo” – respira. Vamos desconstruir essa ideia de perfeição com base na psicologia, neurociência e um pouquinho de bom senso (coisa que a indústria da beleza muitas vezes esquece de aplicar).
Então pega seu café e vem comigo!
A Mentira do Corpo Perfeito – E Por Que Você Não Precisa Mais Cair Nela
Desde que o mundo é mundo (ou desde que inventaram o Photoshop), somos bombardeadas com imagens de corpos femininos “perfeitos”. O problema? Esse padrão muda conforme a época.
No Renascimento, as mulheres mais desejadas tinham corpos volumosos, porque significava que eram bem alimentadas (o que, na época, era sinal de status).
Nos anos 1920, a moda era ter um corpo reto, quase andrógino.
Nos anos 1950, a era de Marilyn Monroe trouxe a valorização das curvas.
Nos anos 2000, veio a febre da magreza extrema.
Hoje, a gente vê um mix confuso: tem que ser magra, mas com curvas no lugar certo.
Ou seja, se seguirmos essa lógica, em algumas décadas pode ser que nosso corpo atual seja exatamente o que vai estar na moda. Então, por que passar uma vida brigando com o espelho?
A psicologia explica que nossa autoimagem é formada por aquilo que vemos repetidamente. Se passamos anos consumindo imagens de corpos irreais e ouvindo que precisamos mudar, criamos uma relação distorcida com nossa aparência.
A neurociência reforça essa teoria. Nosso cérebro tem uma coisa chamada viés de comparação, que faz com que, automaticamente, nos medimos em relação aos outros. O problema? Estamos nos comparando com fotos altamente editadas, filtros que afinam a cintura e luzes estrategicamente posicionadas.
Agora me diz: como competir com um filtro? (Spoiler: não precisa). Simples assim!
Então, o primeiro passo para abraçar seu corpo pós-maternidade é entender que:
O conceito de “corpo perfeito” é uma construção social e mutável.
Seu corpo não está errado – erradas estão as expectativas irreais.
Se até os filtros e edições são necessários para criar um “corpo ideal”, então esse corpo ideal nem existe de verdade.
E se não existe, não vale a pena perder noites de sono por isso, certo?
Mas e se Eu Não Me Sinto Bem?
Agora, uma reflexão importante: se você sente que quer mudar algo no seu corpo, tudo bem! Mas antes de começar qualquer mudança, pergunte-se:
Eu quero isso por mim ou porque me disseram que devo querer?
Estou buscando saúde e bem-estar ou tentando me encaixar em um padrão externo?
Essa mudança vai me fazer sentir mais feliz e confortável no meu corpo ou me deixar ainda mais insegura?
Não há problema algum em querer melhorar sua alimentação, se movimentar mais ou cuidar do seu corpo. O essencial é que isso venha de um lugar de respeito e amor próprio, e não da pressão para se encaixar em uma imagem idealizada.
A Relação Entre Sua Autoestima e a Autoestima dos Seus Filhos
Agora vem a parte que pega: a maneira como você se vê impacta diretamente na autoestima dos seus filhos.
Sim, amiga, além de carregar um ser humano dentro de você por meses e ensinar como se usa talher, você também tem a missão de ser um espelho emocional para eles.
Crianças aprendem observando. Se uma mãe se olha no espelho e faz cara de desgosto, a mensagem que a criança recebe é: “Meu valor está ligado à minha aparência”.
Mas se essa mesma mãe celebra seu corpo, veste o que gosta e se movimenta por prazer (e não por culpa), a mensagem muda para: “Meu corpo é um lugar bom para estar”.
Cuidar da Nossa Primeira Casa: O Corpo Como Reflexo de Tudo
O corpo é nossa primeira casa. E como toda casa, ele precisa ser cuidado – não para se encaixar em padrões, mas para que possamos viver bem dentro dele. Cuidar do corpo vai além da estética; é sobre saúde, longevidade e bem-estar.
Clarice Lispector já dizia: “Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.”
E talvez esse nome seja sentir-se bem consigo mesma, independentemente do que os outros esperam.
Nosso corpo é o que nos permite experimentar o mundo, abraçar quem amamos, dançar, correr atrás dos filhos. Quando cuidamos dele com amor, mostramos aos nossos filhos que cuidar de si não é vaidade, mas uma forma de respeito e gratidão pela vida.
O Corpo Perfeito é o Que Você Já Tem
Como a maravilhosa Cora Coralina nos lembra: “Nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.” E talvez isso também se aplique à forma como nos enxergamos.
Quando você escolhe se enxergar com mais amor, você se liberta – e liberta seus filhos para fazerem o mesmo.
Eles podem aprender desde cedo que beleza não se mede. Beleza se sente.
Então, da próxima vez que se olhar no espelho, veja as histórias que seu corpo carrega, a força que ele tem, a vida que ele sustenta.
E lembre-se: o que você vê ali não é um corpo imperfeito.
É um corpo que vive.
E isso, minha amiga, é a verdadeira definição de perfeição.